20 de ago. de 2013

Terapia...

... em duas rodas com 750cc, um ronco alto, mãos na altura no ombro e o vento batendo na cara!



Pela primeira vez desde que voltei de viagem, ao ligar o motor e botar a moto na rua, consegui sentir uma paz e uma alegria de estar alí, e finalmente consegui por a cabeça no lugar.

Escolhi não andar tão rápido, ir curtindo o visual do guidão alto em relação ao tanque e o asfalto indo para debaixo da moto, e então comecei a me perguntar de onde vinha tanta raiva, tanta indignação, e tanta violência nesse meu "coraçãozinho peludo". Foi aí que entendi que o que eu estava sentindo era uma grande e dolorosa frustração...

Desde pequeno sempre fui muito patriota, defendia meu país e meu estado não apenas em dia de jogo do Brasil ou algo assim, na verdade, sempre defendi muito mais meu estado do que meu país, continuo achando que a solução é fazer um muro ao redor do Estado de São Paulo e declarar independência do resto do Brasil, mas enfim...

A questão é que mesmo sempre tendo orgulho de ser brasileiro e paulista, nunca me conformei com a forma como as coisas aconteciam aqui, mas quando era criança, sempre ouvia que era por sermos uma país relativamente pobre e quebrado em relação aos outros, o tal de país de 3º Mundo. Por isso sempre tive o conceito de que a vida fora do Brasil era muito melhor, porém quase utópica por conta dos custos altos para se viver em outro país, principalmente na Europa, uma vez que nunca fui muito fã do EUA. Então para mim, viver na Europa era algo incrivelmente bom, e proporcionalmente impossível, afinal, lá é o Euro quem comanda, e se a vida já é cara em Reais, imagina em Euros!

Daí em 2008 o jogo se inverteu, veio a temida "Crise Mundial" que arregaçou com meio mundo, e nós que éramos pobres e quebrados, ficamos bem na fita e passamos a emprestar dinheiro pra galera se reerguer, olha que bacana! Foi um momento de otimismo para o Brasil, tipo "agora vai!", mas não foi, continuou a mesma merda de sempre, mas ainda assim era tolerável. Nessa época comecei a fazer meus mochilões pela América do Sul, e em todos os países pelos quais eu passei, o Brasil era sempre tido em alta conta, pois era o único que não estava quebrado, o Real valia muito para nossos vizinhos, e com pouca grana, eu conseguia fazer a festa nesses países, mas mesmo assim, sempre me chamou atenção o fato de que mesmo na Bolívia que é extremamente pobre, as pessoas tinham muito mais educação e consciência de sociedade do que aqui no Brasil. Por conta disso, sempre voltava dos mochilões impressionado com essa educação, mas como financeiramente falando a situação era bem precária, eu achava que aqui ainda era "menos pior".

Com o passar dos anos, fui visitando outros países pela América do Sul, e ví que a situação deles não estava muito diferente da qual o Brasil estava se enfiando, pois aqui o preço de tudo começou a subir vertiginosamente a cada ano, e as condições mínimas para se ter uma vida no mínimo saudável, foram se tornando cada vez mais precárias. O governo cada vez mais cagando e andando para o povo, e o povo cada vez mais cagando e andando pra tudo que não fosse seu próprio umbigo! Notícias cada vez mais manipuladas, cultura popular cada vez mais deturpada, valores de vida sendo jogados fora, "por favor" e "obrigado" se tornando cada vez mais raros, trânsito cada vez mais caótico, metrô cada vez mais impossível, pessoas se tornando cada vez mais animais, polícia cada vez mais estúpida e parecida com bandidos, bandidos cada vez mais perigosos e impunes...

Até que chegou um momento que a situação se tornou tão insuportável, que eu decidi conferir se era só o meu país que estava assim, ou se o resto do mundo também estava indo pro saco assim como aqui. Foi então, que ao invés do costumeiro mochilão pela América do Sul, resolvi atravessar o Atlântico e dar uma conferida "nasOropa" para ver como estava a coisa por lá. Sabe quando você espera sempre o pior? Pois é, achei que minha grana não ia dar, que eu ia passar fome, ou não conseguiria comer direito, sempre ouví que Italiano era mal educado, bravo, que não gostava de estrangeiros e tudo mais.. maaas quando cheguei lá, ví que era tudo completamente diferente!!

Roma que é considerada uma das cidades mais caras da Europa, segundo os próprios europeus, mas surpreendentemente é muito mais barata do que São Paulo!! Na primeira semana, fui no mercado fazer compras achando que ia gastar um fortuna, e uma compra com macarrão, molho, 6lts de cerveja, bolacha, salgadinho, leite, etc, que aqui no Brasil não sairia por menos de R$ 50,00, não deu nem 10 euros! Mesmo convertendo o euro vezes 3 reais, sai mais barato do que aqui!! Aí comecei a me ligar que na verdade a vida lá, era realmente boa, tanto quanto eu pensava, mas ao contrário do que eu imaginava, não era impossível, ou utópica!

Quanto mais eu conversava com os gringos de outros países europeus e com os próprios italianos, mais eu me indignava com a vida que eu levo aqui no Brasil, com os impostos, preços abusivos, transito caótico, falta de educação, violência, impunidade etc. Foi aí que entrei em parafuso, ví que o mundo tinha solução e que na verdade, era o Brasil que estava uma merda, que mesmo num país quebrado, corrupto e que vive de turismo como a Itália, a vida era infinitamente melhor e mais digna do que aqui nas terras Tupiniquins.

E então surgiu essa frustração, a frustração de ter conhecido uma realidade melhor e não tão distante quanto imaginava, mas não pertencer a ela (ainda), frustração de ver que aquela imagem mantida a vida inteira sobre a "utopia" de morar fora, não era tão difícil quanto parecia, frustração de ver caminhar para o buraco, o país que que você tanto defendia, e que tem tanto potencial. Frustração de saber que não há nada a fazer, senão orar pra não perder o controle e pedir por misericórdia. Frustração de ver plalyboys fazendo um monte de merda e saindo impunes, impunidade essa que se aplica a qualquer pessoa ruim que faça merda. Frustração de trabalhar honestamente as vezes até 12hs por dia e saber que no fim do mês, mesmo sem dívida nem gastar com nada, seu dinheiro não rende e você continua no vermelho. Frustração de saber que se você estudar e subir um degrau na sua vida acadêmica, você corre o risco de perder o emprego, pois o lugar que você está, assim como todos os outros, buscam pessoas menos qualificadas para pagar menos e fazer trabalhar mais.

Mas acho que a maior frustração, é de olhar ao redor e não ver solução, é se perguntar e temer até onde isso vai parar, é esperar sempre que as coisas piorem, porque você sabe que está longe de melhorar, é saber que além de tudo isso, você não pode fazer nada senão ir embora, mesmo que por um tempo...

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